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A "Grande Emigração"

Entre as décadas finais do século XIX e as primeiras décadas do século XX, formou-se uma volumosa corrente migratória em direção à América. Esse período é conhecido como a era das migrações em massa. No Brasil, dos mais de quatro milhões de imigrantes que chegaram entre 1888 e 1939, os italianos foram o grupo mais expressivo, alcançando 34% (TRUZZI, 2015, p. 21).

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A imigração massiva de italianos para o Brasil desenvolveu-se a partir de diferentes modelos. Ainda no período imperial, o governo brasileiro começou a implementar núcleos coloniais de alemães e italianos principalmente na região sul do país, com o objetivo de ocupar vastos territórios alheios ao controle do Estado. Outro modelo foi estabelecido a partir da abolição da escravatura, no âmbito do desenvolvimento da economia cafeeira no Estado de São Paulo e, em menor escala, em Minas Gerais e Rio de Janeiro, com sua demanda por mão de obra. Paralelamente, também houve a imigração espontânea, seguindo laços de parentesco e redes de solidariedade, com destinação preferencial para centros urbanos. 

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Com frequência busca-se explicar o enorme deslocamento populacional dos italianos em direção à América apontando os fatores de expulsão, ou seja, as condições econômicas, sociais e políticas que levariam os italianos a abandonar o país, e os fatores de atração, referindo-se às características do contexto americano que favoreciam esse fluxo. Sem subestimar a importância desses fatores, os estudos mais recentes apontam o risco dessa classificação binária transformar o migrante em um não sujeito, passivamente empurrado. Não se trata, porém, de relativizar o enorme peso da condição sócio-econômica na decisão de migrar, mas de dar maior complexidade à explicação causal, incluindo outros elementos, como a formação de redes, a formulação de estratégias individuais ou familiares e as questões culturais e identitárias (FRANZINA, 2006, p.14)

 

A maior parte dos italianos que migraram para o Brasil destinou-se ao Estado de São Paulo, que chegou a concentrar 70% desses italianos entre 1870 e 1920 (TRUZZI, 2015). O que explica essa concentração é a demanda por mão-de-obra criada pela expansão da economia cafeeira no Oeste paulista. Após a abolição da escravidão no Brasil em 1888, o problema da mão-de-obra se agravou. Uma parte dos ex-escravos deslocou-se aos centros urbanos e os que continuaram no campo não podiam suprir a demanda de uma economia em rápida expansão. Ao lado desses fatores econômicos, havia um projeto de branqueamento da população, defendido em alguns meios intelectuais e transformado em política de Estado.

 

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O artigo 1º do decreto federal nº 528, de 28 de Junho de 1890, é um exemplo bastante claro dessa política: “É inteiramente livre a entrada, nos portos da República, dos indivíduos válidos e aptos para o trabalho, que não se acharem sujeitos à acção criminal do seu paiz, exceptuados os indigenas da Asia, ou da Africa que sómente mediante autorização do Congresso Nacional poderão ser admittidos de accordo com as condições que forem então estipuladas.” A seleção dos genes desejados começa já no processo de entrada da pessoa na República dos Estados Unidos do Brasil. A ideia passa a ser incorporada à política. 

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Para responder às necessidades dos cafeicultores, foi desenvolvida uma política de promoção da imigração, tanto por parte de particulares quanto do governo de São Paulo e federal. As primeiras iniciativas particulares de promoção da entrada de imigrantes seguiram-se às medidas de repressão ao tráfico internacional de escravos em 1850, e gradualmente foram buscadas soluções mistas entre a iniciativa particular e a ação governamental (CENNI, 2011, p.208). Em 1886 surgiu a Sociedade Promotora da Imigração, que tinha o objetivo de promover a imigração estrangeira em larga escala para o Estado de São Paulo, atuando em parceria com o Ministério da Agricultura e com o governo Provincial. Sua política baseou-se na imigração por contrato e na preferência pela entrada de núcleos familiares. A imigração subvencionada durou até 1902, sendo então cessada pelo governo italiano após denúncias da situação precária dos imigrantes italianos nas fazendas paulistas.

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Referências 

     CENNI, Franco. Italianos no Brasil. 3ª ed. São Paulo: Edusp, 2011.

    FRANZINA, Emilio. A grande emigração: o êxodo dos italianos do Vêneto para o Brasil. Campinas: Editora da Unicamp, 2006.

   TRUZZI, Oswaldo. Italianidade no interior paulista: percursos e descaminhos de uma identidade étnica (1889-1950). São Paulo: Editora Unesp, 2016 2015.

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